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Pesquisa mostra de forma inédita que as pessoas envelhecem em ritmos espantosamente distintos

Pesquisa mostra de forma inédita que as pessoas envelhecem em ritmos espantosamente distintos


Envelhecer é uma coisa que nos acontece, mas é principalmente algo que infligimos a nós mesmos. Está nas nossas mãos, desde os anos de juventude, colocar rédeas no processo e forçá-lo ao trote, ou deixar que desembeste, a galope solto. A diferença entre as duas atitudes pode ser brutal, como revela um estudo recém-publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

Realizado por um grupo internacional de pesquisadores, liderados pelo especialista em envelhecimento humano Daniel Belsky, o trabalho demonstrou de forma inédita que as pessoas envelhecem em ritmos espantosamente distintos — e que isso já é perceptível quando elas ainda são jovens.

O objeto da pesquisa foram 954 neozelandeses da cidade de Dunedin, todos da mesma idade, acompanhados pela ciência desde que eram bebês. A equipe de Belsky verificou como eles estavam envelhecendo, em diferentes momentos, ao longo de 12 anos, por meio de 18 marcadores biológicos com potencial para medir a deterioração de diversos órgãos e sistemas do organismo. Apesar de a carteira de identidade afirmar que todos os participantes tinham idade cronológica de 38 anos ao final do estudo, os cálculos dos cientistas revelaram que suas idades biológicas variavam desde os 28 até os 61 anos.

Décadas antes de se tornarem idosos, demonstrou o trabalho, os indivíduos com envelhecimento mais veloz já apresentavam físico debilitado, declínio cognitivo e saúde periclitante, bem como piores indicadores cardiovasculares, metabólicos, imunológicos, renais, pulmonares e de deterioração do DNA. Em outro teste, concluiu-se que as pessoas com idade biológica avançada eram também aquelas a quem, a partir da aparência, voluntários atribuíam uma faixa etária mais alta. Segundo a publicação assinada por Belsky e outros 14 pesquisadores, o estudo indica que "intervenções para desacelerar o envelhecimento humano devem ser aplicadas quando os indivíduos ainda são jovens".

Processo quase personalizado


Felizmente, há muito a fazer para desacelerar o declínio do organismo. Diferentes estudos sugerem que 25% do ritmo é ditado pela genética. Quanto a isso, somos impotentes. Mas os outros 75% da aceleração no envelhecimento são de responsabilidade individual. Estão relacionados principalmente ao que a pesquisadora Ivana Mânica da Cruz, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), chama de "santíssima trindade": nutrição, atividade física e estresse.

— A idade cronológica não é o mais importante. Ela é um fator probabilístico, porque é mais provável ter doenças e disfunções com o avançar dos anos. Mas o envelhecimento é quase personalizado. As pessoas têm um nível de controle sobre ele. Não conseguimos pará-lo nem fazê-lo voltar, mas podemos acelerá-lo ou desacelerá-lo. É como um carro. Nós somos o motorista. A decisão é entre acelerar ou desacelerar. E é possível desacelerar muito — afirma Ivana.

Em suas próprias pesquisas, a professora da UFSM já deparou com jovens gaúchos na faixa dos 20 anos que tinham marcadores biológicos de idoso e com idosos que apresentavam índices quase de adolescente. Alimentação, exercícios, gestão das emoções, exposição ao sol e hábitos como fumar ou beber — os chamados fatores ambientais — explicam a diferença por intervir no nível de desgaste do organismo.

O doutor e pós-doutor em biologia do envelhecimento Emilio Jeckel, professor da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que até o fato de morar em uma casa, e não na casa vizinha, já provoca alguma diferença:

— Há um padrão de envelhecimento característico para cada espécie. Só que, na medida em que o organismo passa tempo no ambiente, ocorrem variações que fazem com que cada indivíduo se modifique de uma maneira. Se pegarmos gêmeos univitelinos que viveram em ambientes distintos, os dois terão as mesmas características genéticas, mas depois de um tempo vamos perceber que um está diferente do outro.

Segundo Ivana, o desgaste biológico pode se dar de muitas formas, por sermos compostos de várias partes e sistemas que entram em declínio de maneira desarmônica. Eles não envelhecem ao mesmo tempo. Uma implicação disso é que o jeito de colocar o processo em câmera lenta também terá de ser personalizado.

— O mais importante é ter consciência do que está envelhecendo mais rapidamente no corpo e o que se pode fazer em relação a isso. Não é difícil de identificar, porque será aquilo que começa a apresentar disfunções. Há quem tenha um problema no joelho e diga: "Ah, então não faço mais nada". Está errado. Aí, sim, é que tem de fazer alguma coisa. Além disso, desde os 20 anos, é legal conferir como vão a glicose e o colesterol. Depois disso, tem de fazer exames preventivos, conforme a idade — recomenda Ivana.

O CUIDAR IDOSO não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2015/07/saiba-como-podemos-desacelerar-o-envelhecimento-4808916.html