Discutindo o envelhecimento no Brasil
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, em parceria com a empresa Bayer, realizou uma pesquisa sobre como a transição demográfica aumentou a expectativa da população brasileira e redefiniu o significado de "terceira idade".
Os pesquisadores entrevistaram 2 mil brasileiros acima dos 55 anos em locais de grande circulação, como saída de estações de metrô e praças, em 10 capitais brasileiras (Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Goiânia, Recife e Belém).
Os resultados foram apresentados em um evento em São Paulo que reuniu especialistas no assunto e a apresentadora e jornalista Marília Gabriela para debater como é o processo de envelhecimento para o brasileiro. O estudo apurou que 63% dos entrevistados pensam a respeito de como vão e querem envelhecer.
Quando questionados sobre como se sentem em relação ao passar dos anos, 32% afirmam estar bem com a situação. Além disso, mais da metade (54%) afirmou não se sentir velho. Apesar de 62% ter alguma doença crônica e 65% fazer uso de medicamentos, 64% se consideram saudáveis.
De acordo com Maísa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - São Paulo, ainda é comum as pessoas enxergarem a velhice com vários rótulos que não representam àquela população.
"Mesmo que o envelhecimento faça parte de um processo natural do ser humano, que tem início desde o nascimento, ele ainda é acompanhado por estigmas e preconceitos que precisam ser quebrados", reforça.
Economicamente ativos e socialmente engajados, esse público anseia por um envelhecimento mais saudável e com melhor qualidade de vida. É o caso da Gerônima de Paula, uma dona de casa de 71 anos, que luta para ter uma vida melhor.
"Nasci pobre, lutei e luto até hoje para ter uma boa qualidade de vida. Eu tenho uma vida simples e gosto bastante disso, mas temos sempre que lutar por melhorias. Lutar e sacudir não são coisas só de pessoas jovens", relata.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa média de vida do brasileiro é de 77 anos. De 1940 a 2020 a expectativa terá aumentado 167%, isso porque há uma redução das taxas de natalidade e número de óbitos – uma tendência mundial.
Em um passado não muito distante, chegar à terceira idade era motivo de preocupação para muitas pessoas, mas essa perspectiva tem mudado positivamente, transformando essa fase em um novo ciclo cheio de descobertas e aprendizado.
Para Marília Gabriela, envelhecer com qualidade é ter saúde. "Envelhecer é um processo que começa na juventude, há grande possibilidade de conhecimento e medidas práticas que você insere no cotidiano que te ajudam a lidar melhor com a longevidade, mas o processo é inevitável", comenta.
Algumas questões, no entanto, afligem os entrevistados pela pesquisa. A solidão, com 29%, é o principal medo, seguida da incapacidade de enxergar ou se locomover (21%) e do desenvolvimento de doenças graves (18%).
"Considerando que a população idosa brasileira triplicará até 2050, chegando a mais de 66 milhões de pessoas, segundo o IBGE, é fundamental ter atenção quando o assunto é envelhecimento ativo. Temos que valorizar a função ativa do indivíduo porque, no final das contas, é o que importa quando falamos de longevidade", complementa Maísa.
Com a população ficando mais velha, é importante priorizar a saúde física e mental, assim como a estrutura, não só do indivíduo como também da sociedade como um todo. "A palavra que mais combina com longevidade é solidariedade", segundo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil.
Ainda de acordo com o especialista, um dos aspectos positivos da longevidade é o avanço tecnológico voltado à área da saúde. "Há 20, 30 anos, métodos de diagnóstico precoce e tratamentos fazem toda diferença. Um diagnóstico de diabetes não é mais sinônimo de cegueira ou de insuficiência renal – desde que as intervenções sejam disponibilizadas a este paciente a tempo, com a segurança que o conhecimento médico permite hoje", conclui Kalache.
Márcia Neder, jornalista e autora do livro "A revolução das 7 mulheres – um perfil da geração 50+ que está reivindicando e reinventando a maturidade", defendeu que a velhice deve ser encarada como algo positivo. "Velhice é um privilégio. Temos que almejar ser velho porque o contrário disso é morrer jovem. É preciso tirar a velhice do gueto onde ela foi colocada", argumenta.
Na ocasião, Marília Gabriela falou também sobre a sua mudança de vida na longevidade. "Hoje eu tive o privilégio de escolher parar. Estou me dedicando ao teatro e tenho outros projetos, mas sem a necessidade da obrigação, e isso é maravilhoso. Eu gostei muito da minha carreira e do que fiz, mas não quero mais ter o compromisso que nos escraviza durante boa parte da nossa vida. Comecei a me desapegar aos poucos", disse a apresentadora.
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